A esperança mediada pela Equoterapia
A Família, o Praticante, o Cavalo e a Equoterapia.
Yuri Guimarães Brito | Precursor da Equoterapia na Bahia
Ao expressar um pouco da minha história, faço um convite a todas as famílias que têm filhos especiais, para fazerem uma reflexão sobre a importância da representação da Família, o apoio dos vizinhos e dos amigos nas nossas vidas. A motivação e incentivo de meus pais, Maria Cristina e Ezequiel, me permitiram fazer a escolha: eu quero evoluir, eu preciso melhorar. Geralmente os pais falam para seus filhos: “precisa estudar pra ser gente”. Mas eu já nasci gente, sujeito com direitos à vida. Foi uma maratona vivida pelos meus pais, e a medalha veio coroar quando eu já estava um rapaz, pois, deu tempo eu participar de todo o trabalho, a celebração da vida e reconhecimento da minha Família; e, em especial a minha mãe recebeu a Comenda mais alta do estado da Bahia – A medalha 2 de Julho, um evento marcado pela emoção de todos que prestigiaram esta sessão apresentada pelo deputado Bobô, que me deu muitas alegrias quando era também jogador do Bahia! Ainda quando criança, minha mãe me chamava de executivo mirim! Sem entender o que ela queria dizer com aquela frase, eu tinha uma agenda, com o cumprimento de horários e locais diferentes de segunda a sexta feira, mas, era para a realização de 09 modalidades de atividades de reabilitação. E, dentro desta programação eu adorava as consultas com dr. Alberto Alencar, aliás, hoje o médico da família. E, nos finais de semana, tinha outra programação: passeio no shopping e praia. Pasmem! Sempre chamei a atenção de muitos: por não andar até aos sete anos, sempre carregado no colo, o meu jeito de falar e ainda babava; as pessoas confundiam o meu comportamento e achavam que eu tinha uma deficiência mental. E, ao ser questionada, minha mãe explicava: “não, ele não tem problema mental, ele está na escola com as crianças ‘normais’”. Isso, em 1985, quando eu já sabia lê e da o endereço certinho da minha casa. Tenho um irmão, Hugo, meu amigo! Ele estava com um ano de idade nessa época, e em casa pareciam dois bebês precisando de ajuda e cuidados o tempo todo… era um desdobramento de meus pais. À medida que Hugo ia se desenvolvendo, eu buscava imitá-lo, foi dando certo, crescemos juntos, estudamos nos mesmos colégios, mudamos de séries, freqüentamos as mesmas faculdades embora com cursos diferentes. Formei-me em Publicidade e Propaganda, fui o primeiro paralisado cerebral com o quadro de moderado a severo a freqüentar uma faculdade e sair dela na Bahia. Especializei-me em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG Bahia, sendo indicado para ser o orador da Turma CEPE 2013; ali fiz muitos amigos e, em especial o Comandante Sérgio Loncan e Profa. Suzane Maranduba. A partir da descoberta, aos cinco meses, que eu tinha a paralisia cerebral, meus pais correram contra o tempo. A continuidade das terapias em casa, as quais realizadas na clínica e, percebia o quanto eu estava melhorando, e eles me incentivavam a imitar meu irmão, eu evoluía. Minha mãe costuma dizer que ela lê até rodapé de bula… Imaginem que a letra de bula é minúscula, e rodapé de texto não fica atrás. Fazia todos os recortes dos jornais que falava sobre deficiência. Até que um dia, já com meus 11 anos de idade, eu mal conseguia ficar de pés, fui indicado por Luiza Câmara, para experimentar os benefícios da equoterapia, sendo avaliado por dr. Alberto Alencar Carvalho e, acompanhado por Max Lima e equipe, sob o olhar de minha mãe, que sempre buscou novos desafios para a minha recuperação. A cada sessão de equoterapia que realizava no haras Espaço Verde, percebia que meu corpo desorganizado ia se ajustando com os movimentos do cavalo, parecia uma máquina que ia lubrificando as minhas articulações e ajustando. Uma terapia que me dava a sensação de liberdade, me permitia ver o mundo do alto! que felicidade!
Este experimento ganhou análise criteriosa para a sua continuidade, e minha mãe não estava sozinha! Na busca de possibilitar que esta terapia fosse continuada não só para mim, como também para outros “Yuris”. Uma matéria publicada no jornal de grande circulação, fez com que minha mãe fosse conhecer a ANDE BRASIL – Associação Nacional de Equoterapia, em Brasília, onde fez o curso e participou de Eventos importantes e contou com o apoio do nosso saudoso Cel Lélio de Castro Cirillo, um dos fundadores da Equoterapia no Brasil, para que fosse implantada uma Associação na Bahia. Na sua incansável luta na assistência as pessoas com deficiência, minha mãe contou com apoios das amigas Dra. Irma Santos e Dra. Solange Lacerda e juntas apresentaram um projeto para criação da Associação Bahiana de Equoterapia e foram em busca da parceria com a Polícia Militar da Bahia (Esquadrão de Polícia Montada) e posteriormente ao Exercito Brasileiro (19º- Batalhão de Caçadores), sendo instituído, posteriormente, o Centro de Equoterapia Yuri Guimarães Brito. Já da para perceber que não tem mais volta: o que era um experimento, agora é fato, é realidade, é crescimento da Equoterapia na Bahia, consolidado com mais de 25 anos de existência na Bahia. Acompanho o desempenho e crescimento da Associação Bahiana de Equoterapia, e me sinto co-responsável por introduzir este método na Bahia e, que traz o cavalo como o mediador no processo de reabilitação e que faz o diferencial na vida das pessoas com deficiência. O meu desejo é que as crianças de hoje se tornem um YURI amanhã. Sou um trabalhador, cumpro com as minhas obrigações, e não abro mão da equoterapia nos finais de semana, sendo assistido por uma equipe interdisciplinar fantástica!
Como informei no inicio deste depoimento, que ia expressar um pouco da minha história. Mas, através dos livros Minha Caminhada e Minha Caminhada II – Equoterapia… Cavalgar é Preciso! Ambos de autoria de minha mãe, vocês poderão acompanhar toda a trajetória de uma família e entender que tudo é possível quando o amor está acima de tudo! Amor este, que ela dedica às famílias e todos aqueles que buscam apoio e esperança na ABAE para a implantação de novos Centros de Equoterapia na Bahia.
Ao concluir, agradeço a Deus pela minha recuperação, a minha família e as instituições que vem dando visibilidade a ABAE, possibilitando que este depoimento seja um incentivo para todos que precisam renovar suas esperanças. Ao SICOOB – Cooperativa de Crédito, no seu trabalho social, a minha gratidão por abraçar Associação Bahiana de Equoterapia. E, em especial a Naira, nossa querida madrinha!
Cavalgar é Preciso!
Helianaira Matos Fonseca | Mãe de Isabel
Há um ano atrás, de uma forma bem despretensiosa, e ao mesmo tempo tão surpreendente, a ABAE trouxe um novo sentido para minha vida, bem como para a da minha filha Isabel e esposo, e eu serei eternamente grata por isso. Foi e é muito gratificante experienciar a descoberta da Equoterapia e o quanto ela ressignifica a vida de tantas crianças e seus respectivos familiares, assim como ressignificou a da minha família. Todo o acolhimento e cuidado prestado, desde o primeiro momento, por uma equipe de multiprofissionais, que garantem a atenção à necessidade de cada indivíduo que ali chega, com suas crenças e peculiaridades, muitas vezes sem entender a razão de estar ou como chegar ali, só em busca de uma alternativa ou talvez uma “solução” diante das suas necessidades. Eu como mãe, posso ratificar a minha emoção e turbilhão de sentimentos atrelados ao desenvolvimento e evolução da minha filha ao longo deste ano. Afirmo com veemência que as minhas expectativas foram superadas e fui surpreendida desde que me deparei com a Maria Cristina e tive o privilégio de dividir um pouco com ela da minha história e escutar a dela, que a cada palavra conseguia me transmitir força, confiança e, principalmente, perseverança por encarar o desafio daquela pluralidade de realidades, de uma forma tão especial e singular. Sim, ela conseguiu nutrir o meu coração com muita esperança. Gratidão a toda equipe de profissionais, que atuam com maestria desde o acolhimento até os encaminhamentos e orientações para com as crianças e os seus familiares. Vale ressaltar que, muitos deles, são voluntários e transformam vidas por desejo e amor, sem olhar a quem. Gratidão, ABAE, por investir em educação permanente da equipe, mesmo com meros recursos e com todos os obstáculos que ousam surgir, a fim de que estejam sempre bem capacitados e dispostos a atender e cuidar de um grande grupo de crianças que apresentam necessidades de cuidados diários de saúde, de educação e de interação social, possibilitando a todos, que por aí têm o privilégio de passar, um cuidado mais humanizado e integral. Que bom que de tantos caminhos, os nossos se cruzaram e que dentre tantas escolhas para o desenvolvimento da minha filha, consegui encontrar vocês, que conseguem deixar um rastro de evolução a cada semana, a cada ir e vir de Isabel e o prazer e satisfação da mesma nas quartas-feiras. Sim, a gratidão é a eterna memória do coração e é com o coração transbordando de muito amor e emoção que ratifico, hoje e sempre, o quanto a minha família se tornou ainda mais realizada com descoberta da Equoterapia e do seu propósito, que alinhado com todos os nossos valores, nos move diariamente. Gratidão!
Equipe Técnica Interdisciplinar | ABAEquoterapia
A Associação Bahiana de Equoterapia – ABAE, no uso de suas atribuições realiza a equoterapia, atividade que traz o cavalo como mediador no processo psicoeducacional e terapêutico, perpassando pelo olhar da interdisciplinaridade, contribuindo assim, no programa da assistência especializada às crianças e adolescentes com deficiência, acolhendo de forma humanizada suas famílias.
É importante enfatizar que a instituição tem um acolhimento diferenciado, pois o principal objetivo da equipe multiprofissional é promover um atendimento integrado, voltado para o bem estar, socialização, autonomia, independência e promoção social das crianças, e adolescentes com necessidades especiais. O programa da equoterapia é direcionado por profissionais nas suas especificidades e expertise, contribuindo dessa forma, para uma melhor qualidade de vida para as famílias assistidas na entidade.
Pelo olhar da equipe interdisciplinar, a ABAE destaca-se no trabalho de excelência, e faz o diferencial na sua política de assistência integrada as pessoas com deficiência, contribuindo para o crescimento da equoterapia no estado da Bahia com o apoio da equipe interdisciplinar. Isto posto, é importante entender o princípio dessa Instituição, que nos remete a reflexão: “ciência, em lugar de empirismo; harmonia, em vez de discórdia; cooperação, não individualismo; rendimento máximo, em lugar de produção reduzida; desenvolvimento de cada homem, no sentido de alcançar maior eficiência e prosperidade” TAYLOR (2010,p.27). Este pensar é manifestado pela equipe multiprofissional e traduz no interesse dessa Associação, fortalecer suas ações através de parcerias com os Centros Universitários para a realização de estágios acadêmicos, com o intuito de promover uma experiência inovadora correlacionando a teoria com a prática equoterapêutica, sobre os benefícios da equoterapia dentro de uma abordagem interdisciplinar com o acompanhamento de preceptorias.
Portanto, a equoterapia é vista como um conjunto de técnicas educativas e terapêuticas, que age contribuindo de forma global nas áreas da educação, saúde, e promoção social influenciando na melhora da coordenação motora, equilíbrio, interação social, verbalização, concentração, dentre outros fatores, influenciados pela a gama de estímulos, promovida pelo movimento rítmico do passo do cavalo.
Aloysio Herwans dos Santos Souza | Maj Comandante
Nossa história, Polícia Militar da Bahia, junto à equoterapia remonta ao início da própria ABAE, quando há 25 anos, chegava neste quartel Dona Cristina Guimarães, com o seu filho Yuri nos braços, este não caminhava ou sustentava o tronco ainda. Observamos nesse lapso temporal numerosos avanços, tanto de Yuri, hoje formado e pós graduado, empregado no mercado de trabalho, como da nossa querida Associação Bahiana de Equoterapia, que promove o tratamento de cerca de 150 crianças mensalmente, com uma demanda reprimida de aproximadamente 3000 crianças; experimentamos nosso primeiro e maior emprego de policiamento comunitário em sua essência, concomitante à sua implantação na Polícia Militar da Bahia.
Reconhecendo a necessidade e importância de ampliar a oferta dos nossos serviços, buscamos promover pólos de atendimento de equoterapia; nesse diapasão foi possível estreitar e reforçar nossos laços com o Exército Brasileiro,” braço forte e mão amiga” na nossa nação; atualmente proporcionamos as atividades da ABAE nas dependências do 19º Batalhão de Caçadores, em nossa Capital, onde as famílias residentes naquela região comparecem evitando o deslocamento até o outro extremo da cidade.
Diante da crescente demanda por esta modalidade de tratamento em todo o Estado da Bahia, nossos quartéis estruturam-se para efetivar esta oferta e buscam através da nossa Unidade acesso à ABAE para treinamento e imersão técnica alinhando a doutrina e modus operandi; são exemplos exitosos, que pudemos acompanhar e instruir, os trabalhos desenvolvidos nos quartéis das cidades de Feira de Santana, Itabuna, Santo Antonio de Jesus, Juazeiro, Paulo Afonso, Teixeira de Freitas e mais recentemente, Jequié.
É tempo de comemorar todas as conquistas, a exemplo da construção deste site, que trará maior visibilidade e alcance às atividades aqui desenvolvidas, bem como de reforçar nosso compromisso e trabalho com a causa da equoterapia, visto que após promulgada a Lei 13.830/2019, essa modalidade de tratamento deve ser obrigatoriamente fornecida pelos planos de saúde, quando houver indicação médica para o tratamento. Parabéns à Associação Bahiana de Equoterapia, felicidades aos nossos parceiros. Sempre haverá uma Cavalaria!